O Exército do Paquistão alertou nesta quarta-feira para as "consequências graves" que as declarações do primeiro-ministro, Yousuf Raza Gilani, que criticou militares e os serviços secretos paquistaneses, podem provocar no país.
Em comunicado, as Forças Armadas afirmaram que "não existe uma acusação mais grave" do que a feita por Gilani.
Em uma entrevista à imprensa chinesa, o primeiro-ministro tachou de "ilegais" os documentos enviados ao Tribunal Supremo pelos chefes do Exército, Ashfaq Parvez Kayani, e do ISI (serviço secreto paquistanês), Ahmed Shuja Pasha, que apontam para um conflito entre o poder civil e o militar.
Gilani considerou que esses papéis só deveriam ter chegado ao Supremo com a autorização do governo, que supervisiona todos os órgãos do Estado.
O tribunal solicitou uma resposta por escrito aos envolvidos no chamado "memogate", um escândalo que
relaciona o governo e o Exército a um suposto pedido do poder civil aos Estados Unidos para intervir no país caso houvesse uma tentativa de golpe militar em Islamabad.A solicitação aconteceu depois que a morte de Osama bin Laden, em maio em uma operação dos EUA no norte da capital paquistanesa, sacudiu o Paquistão.
O escândalo já custou o cargo a Husain Haqqani, ex-embaixador em Washington e suposto emissário da mensagem, mas o caso permanece no Supremo, que continua com a investigação.
Em suas respostas, os generais paquistaneses confirmaram a existência do documento, o que foi negado pelo governo.
No comunicado desta quarta-feira, o Exército afirmou que a Procuradoria estava encarregada dos textos que seriam enviados ao Supremo e indicou sua "responsabilidade" de responder ao pedido da corte.
O Partido Popular (PPP), do presidente Asif Ali Zardari, não está sob pressão apenas por esse caso, mas também por uma sentença emitida na terça-feira pelo alto tribunal.
O Supremo pediu a execução de uma sentença de 2009 que poderia afetar muitos funcionários eleitos e que deve reabrir os casos de corrupção fechados por um acordo com o regime anterior do ex-presidente Pervez Musharraf.
A instabilidade política provocada pelo conflito entre o poder político e militar levou analistas locais e diplomatas estrangeiros a preverem uma possível antecipação das eleições gerais marcadas para o início de 2013.